'Blog do Rodrigo' completa primeiro ciclo de publicações comprometido com divulgação da verdade até na Igreja e na Política em Marília
A homilia de dom Luis Antonio Cipolini transcorria religiosamente alinhada às explicações teológicas de praxe na missa campal de Corpus Christi de 2018 quando, a certa altura, o bispo de Marília afirmou algo que, à primeira mão, soou aparentemente desapercebida pela multidão que o ouvia atenta e calada como se dentro de um templo estivesse:
"O país não precisa de um salvador da pátria. Nós já temos um salvador, que é Jesus Cristo”
Intencionais ou não, as palavras do bispo acomodaram um conotação eleitoral inevitável - e, de certo modo, providencial. Naqueles dias, as pré-candidaturas já assanhavam acaloradas discussões, inclusive de gente que se dizia católica (ou cristã) mas não titubeava em ofender qualquer um que se atrevesse a se opor a este ou aquele partido ou figura política - principalmente pelas redes sociais.
Foi neste contexto que as palavras do bispo ecoaram - ao menos, nos meus ouvidos, já calejados a interpretar tudo que escuta pelo crivo da análise jornalística. Era o 'gancho' que precisava para 'abrir' a matéria além de um conteúdo meramente noticioso. De posse da cópia impressa do discurso completo em mãos, restou apenas acomodar tudo mais que havia sido dito e disponibilizar o texto para pronta publicação no site da Diocese de Marília.
Ledo engano.
O conteúdo foi, naturalmente, editado e publicado. Sem ressentimentos.
Afinal, escrevi como jornalista ao tempo que deveria ter me contido o suficiente para entregar tão somente o que é próprio de um assessor diocesano da Pastoral da Comunicação (Pascom): nada além de um registro. Números de praxe, declarações, mas ainda assim, um registro. Mas, o que fazer com a frase do bispo?
Esta angústia - a saber, o que dizer ou escrever - é mais comum do que se imagina na rotina de um jornalista nas redações de qualquer veículo de comunicação. Nem sempre é possível ou permitido publicar o que se apura. O veto de editor, não raro, é chancelado principalmente por interesses difusos aos do jornalismo.
Ao repórter cabe resignar-se com o veto, repassar a informação até para um concorrente na esperança de que seja divulgada ou, por desgaste e desgosto, chegar ao ponto de pedir demissão. Sei bem o que é isso. Fato é que, por mercê das novas formas de comunicação digital, a informação não está mais submissa aos muros editoriais e institucionais. Não titubeei:
Criei um blog.
Esta 'alternativa bônus' não é algo tão novo, é verdade. Os blogs já eram uma realidade entre jornalistas e estudantes da Comunicação Social pelo menos desde o início desta década. Não via a necessidade de ter algum até três anos atrás, quando achei que deveria analisar as capas dos jornais de Marília. Não durou muito tempo. Um dos dois fechou as portas e não vi mais sentido em escrever sobre a primeira página de um sem ter a do outro para comparar.
O dilema agora era semelhante: publicar ou não? Uma das versões - a oficial, digamos assim - já estava publicada. A minha, não. Fosse repórter de jornal, como em muitas outras coberturas do Corpus Christi em Marília e região, minha matéria acabaria impressa, dois dias depois. Não era mais o caso. Não queria que um raro 'insight' do bispo, garimpado entre tantos de seus discursos protocolares, ficasse fadado ao limbo dos arquivos ante a necessidade de uma reflexão necessária para se compreender aqueles dias de efervescência política no país.
Dei um Google e pesquisei por 'wix'. O link do site, especializado em oferecer páginas online gratuitas, apareceu no topo. Pesquisei por um modelo com layout simples, objetivo, direto. Estava exausto. Depois de quatro horas de cobertura, subindo e descendo ruas e escadas, nada me importava mais que publicar o quanto antes o primeiro post antes de, enfim, jantar, tomar um banho e dormir.
Simplifiquei o menu. Deixei apenas um link de 'home', algumas informações sobre mim e o contato. Copiei o texto, colei no espaço de postagem, tratei a melhor foto que fiz de dom Luis, fiz o upload e, antes do gran finale, detive-me novamente no menu. Já que seria a minha visão das coisas, cravei meu nome: Blog do Rodrigo. Mais por uma casualidade que qualquer planejamento, portanto, retornei à dura rotina de um blogueiro.
Publiquei, enfim, minha versão.
DA GREVE ÀS ELEIÇÕES
Os dias que se sucederam à primeira postagem foram intensos. O Corpus Christi de 2018 ocorreu em meio à greve nacional dos caminhoneiros que parou o país. O blog repercutiu o reflexo do movimento no preço dos combustíveis e no valor do botijão de gás e, ao final da paralisação, acompanhou a entrega de três toneladas de doações excedentes a entidades assistenciais da cidade.
O abandono da ferrovia pautaria a maioria dos posts seguintes, a começar por uma análise da relação da cidade com seus trilhos e, depois, de uma declaração inusitada do prefeito Daniel Alonso (PSDB); a estagnação da fabricação de carros de passageiros pela indústria nacional e a invasão na faixa de domínio por cercas e casas no distrito de Padre Nóbrega.
No meio desta 'cobertura ferroviária' ainda houve espaço para publicações sobre a troca de comando na Diretoria de Ensino de Marília e a respeito do 'Roda Marília', um programa semanal de entrevistas exibido nas noites de terças-feiras pela TV Cidade Marília| Canal 9. Sou um dos dois únicos remanescentes da bancada original de entrevistadores, desde maio de 2017.
A exemplo do primeiro post, alinhei uma análise do processo eleitoral a partir de setembro sob uma ótica, digamos, 'religiosa'. Sob este ângulo, adverti a influência e o uso que se faz das igrejas na escolha de candidaturas; a sujeira pública dos santinhos e a oportunidade de limpeza pelas urnas; e a indisfarçada campanha eleitoral na carreata de Nossa Senhora Aparecida.
O 'DOSSIÊ'
Até então, o blog ocupava-se do cotidiano da cidade. O passo seguinte seria - como de fato, ocorreu, pouco depois - o acompanhamento mais próximo do noticiário político da cidade a partir da cobertura das sessões camarárias com um olhar mais atento aos bastidores e suas implicações dentro e fora do plenário.
Já estávamos em novembro de 2018. Meses antes, havia recebido um pequeno calhamaço de páginas soltas com toda sorte de denúncias contra diversos padres da Diocese de Marília - sete, pelo menos. Era o tal 'dossiê anônimo' que, embora submetido a discreta análise, teve sua existência publicada por um portal de notícias da cidade.
Solicitei uma segunda cópia de um colega para se certificar de que o conteúdo seria o mesmo que tinha em mãos e decidi postar uma análise geral com várias indagações sobre quais motivos teriam provocado a redação e envio do 'dossiê' aos meios de comunicação "de Marília e região".
A reação foi imediata - ainda mais com a 'chamada' pelas redes sociais. Em poucas horas não faltaram curiosos sobre o conteúdo do 'dossiê': familiares, amigos, outros colegas de profissão, seminaristas, padres. Do clero veio, naturalmente, a reação mais adversa. Uns apoiaram, outros indagaram, reservadamente. Houve críticas, e não foram poucas. Percebi, naquele momento, como a busca pela verdade é algo constrangedor mesmo no seio da própria igreja.
Àquela altura, já havia analisado muita coisa a respeito das tais denúncias. À medida que me aprofundava na apuração de uma, deparava-me com mais outra - factível ou não. O que seria uma simples verificação de fatos e dados tornou-se um novelo de lã com muitas pontas a se tear. Desenrolar esse 'dossiê' tem sido, desde então, uma tarefa das mais árduas, seja pela complexidade das informações ou pelo desgaste físico, mental e emocional que impõe a quem se dispõe a fazê-lo.
A essas circunstâncias, a experiência incumbiu de agregar disciplina, organização, paciência e resiliência frente às exigências do trabalho em si como também na administração de ambientes adversos, comportamentos de indiferença e até de chacotas dentro de certos círculos na própria igreja. Não esperava, sinceramente, que fosse diferente. Afinal, as dúvidas e denúncias repousam sobre comportamentos oriundos da própria igreja.
O post de análise do 'dossiê', aliás, foi, por enquanto, o único divulgado exclusivamente sobre o assunto neste blog. Nada do conteúdo completo e, tampouco, das apurações que se seguiram alcançou qualquer publicidade, com exceção de raras menções de sacerdotes citados - o que não significa culpa. Apenas isso.
Há, como disse, muito fio para se desenrolar neste 'dossiê', cujo novelo parece não ter fim. É uma questão de tempo até que a verdade sobre os fatos - apurada, checada, periciada - venha à tona e, dependendo do caso, encaminhada àqueles que devem tomar as devidas providências.
PROPÓSITO
Além de registrar, indagar e acompanhar as movimentações da Igreja Católica em prol de um combate efetivo aos crimes sexuais praticados por membros do clero, já no começo de 2019, o blog retomou ultimamente suas atenções à cena política, à ferrovia e, quando possível, no acompanhamento das sessões camarárias. E, claro, ao que acontece nos bastidores católicos.
Um internauta mais atento observará que não há regularidade nas postagens deste blog - um 'heresia' aos 'cânones' do marketing digital. À rotina noticiosa há jornais, revistas, portais. A salvo um fato aqui, outro acolá, este blog terá sempre preferência pela análise, pela contextualização, mesmo que na publicação de quaisquer informações de última hora.
É este o propósito deste blog: não apenas informar, mas propor reflexão. E isso inclui tempo. Por isso que dificilmente se notará por aqui o empilhamento de notícias, própria dos jornais, por exemplo. É pela análise que se busca respostas para uma compreensão melhor do que acontece e faz a diferença no cotidiano da coletividade e na vida de cada um de nós.
O 'Blog do Rodrigo' deve ganhar, em breve, um domínio próprio, além de outros recursos que implicarão em custos para sua manutenção. No entanto, não há qualquer previsão para cessão de espaços para publicidade - o que seria legítimo, a considerar as despesas comuns no dia a dia de qualquer jornalista.
Naturalmente, é pela publicidade que se sustenta a esmagadora maioria dos veículos de comunicação, com menor ou maior grau de comprometimento pela influência comercial (ou pelo interesse político, via conteúdo oficial) em suas linhas editoriais. Quem lê, ouve e assiste, sabe. Ou deveria notar isso.
O blog, quando possível de ser conduzido às custas do próprio autor, proporciona uma autonomia editorial e profissional rara. Dinheiro nenhum paga o direito de sentar-se ao computador e escrever o que deve ser dito. Minha liberdade de imprensa não está à venda.
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