O PÃO DAS RUAS

Católicos fermentam estatísticas de celebração do Cristo Eucarístico. Bispo alerta para ‘fomes do mundo’ enquanto fiéis não abarrotam cestos de doações. Uma breve crônica sobre a passagem do Corpus Christi pelas vias profanas de Marília

Do alto do Cristo Eucarístico: dom Luiz Antonio Cipolini concede bênção final após procissão da quinta (19)

Treze dias após ter reduzida sua multidão pelo censo oficial, católicos de Marília se reuniram novamente para ver Jesus Cristo Eucarístico passar, em procissão de fé e cores, na quinta-feira (19), na celebração do Corpus Christis.  

Assentados ao largo da Catedral Basílica de São Bento, fiéis se espalharam pela Praça Maria Izabel, em aparente maior número entre aqueles que estiveram ao redor da mesa pública da fé católica em 2024.

Aos pés da catedral: católicos reuniram-se em número aparentemente maior em comparação a 2024

Levado por vias exclusivas e ornamentadas com alimentos da terra – serragens, açúcar, algodão e café – o Pão das Ruas Pôs-se em saída para alimentar o povo além das dispensas contidas de si, confinadas nas igrejas e suas catedrais.

AS FOMES DE CADA DIA

Em sua homília, o bispo de Marília, dom Luiz Antonio Cipolini, pontuou o aspecto solidário da multiplicação dos pães e peixes, proclamada segundo o evangelho de Lucas – “o pão aumenta à medida que passa de mão em mão” – e de onde ainda precisa chegar.

“À nossa volta, há fome de comida, mas também de companhia, de consolação, de amizade. Há fome de atenção, de esperança, de paz, fome de ser evangelizado”, afirmou. “É preciso comer e dar de comer”.

Homilia sobre as fomes: bispo apontou a quem o povo católico deve saciar com fé e obras no dia a dia

Na prática da fé, no entanto, o alimento pedido em doação para nutrir o corpo de famílias carentes das paróquias não abarrotou os cestos deixados aos pés do altar na celebração de quinta-feira (19).

ARTE SACIADA

Ao menos pelas veias da criatividade, a ‘pastoral dos artistas’, como definiu o bispo, reunida por horas de um dia para a estética cerimonial, saciou de beleza as vias por onde o Corpo de Cristo passou.

'Pastoral de artistas': fiéis e demais voluntários confeccionaram tapetes com fartura de criatividade

Da avenida Nelson Spielmann, na esquina da catedral, até a frente do paço municipal, vizinha à marquise do rito final no Santuário Nossa Senhora da Glória, a arte sacra esticou seu tapete, exceto nas encruzilhadas, para deixar fluir o trânsito.

Entre cordeiros, cálices, pombos e imagens, os paroquianos também deram passagem à oportunidade para homenagens – o futuro São Carlo Acutis (1991-2006) e o papa Leão 14 foram duas delas.

Sua Santidade no tapete: papa Leão 14 foi uma das personalidades católicas homenageadas por fiéis

Já era noite quando a procissão deixou a São Bento a caminho do santuário final. Em sistema de revezamento de mãos entre bispo e padres, o Santíssimo Sacramento caminhou sobre a criação artística humana.

Ao lado, um cordão de coroinhas e acólitos separava o povo do Cristo Eucarístico, como que a preservar o tapete sacro do contato primeiro dos passos pecadores, que não os do próprio clero, por privilégio ritual.

Adoração conectada: fiéis apontam celulares para gravar bênção final do Santíssimo Sacramento

Após a bênção final do Santíssimo, a multidão retomou o próprio caminho. Enquanto dispersava, já havia avançado a peregrinação da limpeza pública, amontoando a via santa para a retomada do tráfego profano do dia a dia.

Vida que segue em vias profanas: servidores recolhem restos de tapete após procissão de Corpus Christi

Porque hoje é sábado (21). E feriado.