As reflexões de Francisco sobre os escândalos da Igreja Católica nos Estados Unidos no editorial de domingo (6) do Jornal da Manhã de Marília
Um papa argentino, com muito carisma e também bastante sincero em seus pronunciamentos, principalmente quando aborda os erros e fracassos do catolicismo. Isso não é de hoje, mas os Papas anteriores fizeram muita vista grossa para os problemas que afligem a Igreja, mormente quando se trata de pedofilia.
Só que os problemas cresceram muito nos últimos anos e as pessoas criaram coragem para fazer as denúncias, sejam contra padres ou bispos. E foi exatamente por ocasião de um encontro de bispos nos Estados Unidos que o papa resolveu colocar a mão na ferida novamente.
Em uma longa e incomum carta enviada aos bispos norte-americanos, o Papa Francisco admitiu a perda de credibilidade da Igreja por causa dos recentes escândalos de abuso sexual e pede ao clero americano que mostre unidade para enfrentar a crise.
A carta foi enviada aos bispos dos Estados Unidos que se reuniram para um seminário em Chicago. Nela, Francisco afirma que a resposta ao escândalo mostra a necessidade urgente de uma nova abordagem de gestão e mentalidade dentro da Igreja.
"O povo fiel de Deus e a missão da Igreja continuam sofrendo muito como resultado de abusos de poder, consciência e abuso sexual e da maneira como foram administrados", escreveu o Papa, acrescentando que os bispos "se concentraram mais em apontar dedos do que na busca por caminhos de reconciliação".
PEDOFILIA
Uma série de escândalos de abuso sexual infantil abalou a Igreja Católica, que tem 1,3 bilhão de seguidores em todo o mundo. Francisco tem lutado para resolver o problema, conforme o escândalo corrói a autoridade da Igreja em meio a divisões agudas em Roma sobre como lidar com as consequências. Em dezembro, o Papa aceitou a renúncia do bispo auxiliar de Los Angeles, Alexander Salazar, devido a sua "má conduta" com um menor.
Em dezembro, a Procuradoria de Illinois revelou que 685 padres foram denunciados por pedofilia no Estado, um número muito maior do que o fornecido pela Igreja Católica, em mais um escândalo envolvendo o clero.
Têm sido comum manifestações públicas do Papa Francisco causando polêmica, exatamente por causa da sua sinceridade. Na missa do ano novo, o Papa Francisco já tinha proposto uma renovação na igreja que, segundo ele, corre o risco de se tornar um lindo museu do passado, se os católicos perderem a fé.
Na última quarta-feira (2), na primeira audiência do ano, na sala Paolo VI, no Vaticano, inicialmente, ele falou aos presentes sobre a fé cristã. Disse que é melhor ser ateu do que um cristão hipócrita. E aconselhou a todos o "revolucionário" evangelho.
Pelo jeito, o Papa Francisco resolveu mesmo jogar duro para salvar a Igreja Católica do caminho lodoso que tem seguido, escondendo os próprios erros. Cardeais, bispos, arcebispos torcem os narizes, mas a verdade é que a repercussão tem sido muito positiva no mundo católico, com grande reconhecimento da franqueza e sinceridade de Francisco.
* Íntegra do editorial do Jornal da Manhã de Marília (SP), publicado na edição de domingo (6.jan.2019). Reprodução autorizada.
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