Câmara ignora própria orientação jurídica e aprova reajuste a servidores inativos fadado a ser vetado pelo Executivo. CPI da Covid evoca previsão orçamentária para refutar negativa da presidência à contratação de auditoria. Dispensada por alteração regimental, leitura de votos de pesar jaz no plenário. Marília perde Nadir de Campos
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Fincadas em solo pedregoso na Saturnino de Brito, às vistas dos poderes municipais, no centro de Marília, dezenas de cruzes demarcam no passeio público a póstuma lembrança dos que se somaram à trágica estatística da covid-19 na cidade – em particular, aqueles que não sobreviveram à espera de vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Do outro lado da avenida Sampaio Vidal, outra pandemia, a da ilegalidade, assola há tempos o próprio Legislativo mariliense, transformado em um mausoléu constitucional, caiado de letras mortas sob a pedra fria do populismo parlamentar.
A última vítima foi o recém-nascido Projeto de Lei 72/2021, com apenas seis dias de idade, contaminado por uma emenda contraída em ambiente legislativo na sessão ordinária desta segunda-feira (10), na Câmara Municipal de Marília.
ORAS, A LEI
A proposta chegou em regime de urgência ao Legislativo. O Executivo pedia o reajuste de R$ 170 para R$ 230 no valor da assistência médico-social recém concedida aos inativos e pensionistas da prefeitura, do Departamento de Água e Esgoto de Marília (Daem) e do Instituto de Previdência do Município de Marília (Ipremm).
Mas, exposto ao plenário, o projeto sofreu uma mutação justamente no valor do subsídio por iniciativa do vereador Luiz Eduardo Nardi (Podemos). De R$ 230, o aumento subiu para R$ 420 – um salto de 147,06% em relação ao valor atual. Bem acima dos 35,2% pedidos pelo Executivo, considerado impacto mensal previsto de R$ 156,9 mil.
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Até então, a Mesa da Câmara contava com a simples aprovação do projeto para que fosse publicado no Diário Oficial do Município de Marília (Domm) na edição desta terça (11) – o que não ocorreu – a tempo de que a prefeitura pudesse rodar uma folha suplementar com pagamento retroativo a 1º de abril.
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Alertado pelo vereador e advogado Marcos Custódio (Podemos), que apontou para o risco de veto, o presidente Marcos Rezende (PSD) recorreu à orientação da Procuradoria Jurídica, ainda durante a sessão extraordinária, para que houvesse uma manifestação constitucional em relação à emenda e à votação. A resposta não tardou.
“Segundo a jurisprudência do STF (Supremo Tribunal Federal), as emendas do Poder Legislativo têm que guardar pertinência temática com a propositura original, e não importar em aumento de despesas”, informou, à Mesa Diretora, o Procurador Jurídico do Legislativo, Daniel Alexandre Bueno, presente no plenário.
Apesar da orientação jurídica, o PL 72/2021 foi aprovado por unanimidade, a exemplo de sua única emenda. E, como já prevera Custódio, do jeito que chegar ao Executivo, a proposta voltará à Câmara por conta do veto a ser feito ao aumento sugerido por Nardi, conforme já confirmou o gabinete ao blog na manhã desta terça-feira (11).
Caso persista na emenda e derrube o veto do prefeito, os vereadores praticamente inviabilizarão a aplicação da lei, dada a sua inconstitucionalidade. Nesta queda de braço com o Executivo os únicos derrotados serão os aposentados e pensionistas que não receberão, sequer, o reajuste mínimo previsto no projeto.
Situação bem distinta à dos servidores públicos municipais da ativa, cuja atualização do vale-alimentação, de R$ 360 para R$ 420, foi autorizada pelo plenário nesta segunda (10), sem nenhuma alteração. O impacto mensal previsto pela Secretaria Municipal da Fazenda é de R$ 307,2 mil.
RECURSO NEGADO
Instalada há apenas oito dias para investigar o Executivo no uso dos recursos para o enfretamento à covid-19 em 2020, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de Marília ainda não teve sua primeira reunião pública, prevista para a próxima sexta (14), mas já atua nos bastidores.
Na última movimentação, nesta segunda (10), evocou a previsão orçamentária da casa para defender a disponibilidade de recursos para contratação de empresa especializada e consultoria e auditoria diante de negativa exposta pelo presidente Marcos Rezende (PSD), em reunião fechada.
Segundo apurou o blog, a presidência teria argumentado a prioridade do uso dos recursos na casa ao combate da pandemia. Procurado ainda durante a sessão desta segunda (10) e também por sua assessoria de imprensa, Rezende não se manifestou.
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Conforme constou a comissão da CPI em requerimento enviado à presidência do Legislativo, os recursos já estão previstos no Orçamento 2021 da casa. São citadas despesas de R$ 125 mil com ‘serviços de consultoria’ e de R$ 350 mil, referente aos ‘serviços de tecnologia da informação e comunicação’, dos quais R$ 317 mil já foram empenhados.
A exposição negativa dos valores diante da opinião pública fragilizou o pedido da comissão, a começar pelo recuo do próprio relator, Ivan Negão (PSB), que retirou sua assinatura. Coube ao presidente da comissão, Elio Ajeka (PP), um esclarecimento sobre o assunto durante a sessão ordinária desta segunda (10).
“É errônea essa colocação (pela imprensa) dos R$ 350 mil que nós trouxemos. Quem vai determinar os custos é a empresa”, explicou o presidente Élio Ajeka (PP). Negão, por sua vez, negou qualquer ‘racha’. “Não se faz necessária a contratação neste momento”, repetiu ao blog.
Além da previsão orçamentária, a CPI da Covid também sugeriu, ainda no requerimento, que a presidência possa utilizar recursos do duodécimo para eventual contratação ou, em último caso, solicite auxílio técnico ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), o que não incluiria gastos.
RESENHA CAMARÁRIA
‘BBB LICITAÇÃO’
Os vereadores acolheram a proposta de Eduardo Nascimento (PSDB), que obriga o município a gravar e transmitir ao vivo os processos licitatórios no Portal da Transparência. A matéria agora segue o trâmite legislativo – prazo para inclusão de emendas e análise de comissões – antes de voltar ao plenário para ser aprovado ou não. Atualmente, a visibilidade das licitações está restrita aos participantes, apesar do acesso aberto ao público.
DEMOROU
Único representante nipônico na atual legislatura, Elio Ajeka (PP) já tratava nos bastidores com o Executivo sobre a possibilidade da construção de uma praça em homenagem à colônia e imigração japonesa na cidade. Se quisesse, já poderia ter feito um requerimento ao prefeito. Demorou. O presidente Marcos Rezende (PSD) percebeu a oportunidade política e protocolou antes. A aprovação, por praxe, foi unânime.
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ATRAVESSADA
A iniciativa da presidência, que tem como correligionário o deputado federal Walter Ihoshi, não pegou bem entre os vereadores. O movimento foi interpretado como uma ‘atravessada’ na propositura do colega. Ajeka, por sua vez, relevou: pediu a Rezende a dupla autoria no requerimento, no que foi aceito. Incluso pelo presidente na assinatura, Eduardo Nascimento (PSDB) declinou.
PRESS COVID
O afastamento de um servidor positivado com covid provocou a reorganização da ocupação do espaço reservado à imprensa na Câmara nesta segunda (10). As cadeiras foram afastadas de modo a dividir a permanência dos jornalistas que fazem a cobertura regular das sessões: um (este autor) ficou e o outro, Fernando Andrade, do Conexão Marília, subiu à galeria. Os demais – contados na palma da mão – acompanharam de forma remota.
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PESARES
A sessão ordinária desta segunda (10) foi a primeira após a mudança no Regimento Interno que suprimiu a leitura dos requerimentos de votos de profundo pesar. A votação passou a ser feita em globo, sem a menção dos falecidos – para a tristeza (acredite, se quiser) de vereadores cujos nomes não serão mais citados na ‘necrologia legislativa’. A vaidade política é pela hora da morte.
PERDA
Faleceu nesta terça (11) o ex-vereador da Câmara Municipal, Nadir de Campos, aos 87 anos. Professor e advogado, ele foi eleito para as legislaturas de 1973 a 1977, 1983 a 1988 e de 1993 a 1996, ocupando a presidência em 1994. A Câmara manifestou suas condolências através do presidente Marcos Rezende (PSD). Informações sobre velório e sepultamento não haviam sido divulgadas até a publicação deste post.
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REQUERIMENTOS APROVADOS NA SESSÃO DESTA SEGUNDA (10)
Segue relação completa abaixo pela ordem de leitura. Clique no número e confira a que se refere cada um:
678/2021, de Ivan Negão (PSB)
688/2021, de Luiz Eduardo Nardi (Podemos)
686/2021, de Marcos Custódio (Podemos)
709/2021, de Rogerinho (PP)
761/2021, de Professora Daniela (PL)
703/2021, de Junior Moraes (PL)
646/2021, de Danilo da Saúde (PSB)
706/2021, de Eduardo Nascimento (PSDB)
774/2021, de Elio Ajeka (PP)
757/2021, de Evandro Galete (PSDB)
736/2021, de Ivan Negão (PSB)
649/2021, de Luiz Eduardo Nardi (Podemos)
750/2021, de Marcos Custódio (Podemos)
818/2021, de Marcos Rezende (PSD)
820/2021, de Marcos Rezende (PSD)
822/2021, de Marcos Rezende (PSD)
A PAUTA DA SESSÃO ORDINÁRIA DESTA SEGUNDA (3)
I – PROJETO A SER CONSIDERADO OBJETO DE DELIBERAÇÃO
1 – Projeto de Lei nº3/2021, do vereador Eduardo Nascimento (PSDB), obrigando a gravação em áudio e vídeo e transmissão ao vivo no portal de transparência da Prefeitura Municipal, dos processos licitatórios. (Processo incluído na Ordem do Dia a requerimento verbal, aprovado, de seu autor)
ACEITO por unanimidade
II – PROCESSO CONCLUSO
1 – Discussão única do Projeto de Lei nº 59/2021, da Prefeitura Municipal, autorizando o Poder Executivo abrir créditos adicionais especial e suplementares no orçamento vigente do município, no valor total de R$ 1.326.000,00 para o custeio do Restaurante Bom Prato, aquisições de materiais permanentes e de consumo e subvenção social destinado à Fundação Mariliense de Recuperação Social – FUMARES.
APROVADO por unanimidade
III – PROCESSO INCLUÍDO NA ORDEM DO DIA A REQUERIMENTO VERBAL, APROVADO, DE SEU AUTOR
2 – Primeira discussão do Projeto de Lei Complementar nº 9/2021, do vereador Luiz Eduardo Nardi (Podemos), modificando o inciso IV, do artigo 272, da Lei Complementar nº 889/19 – Código Tributário do Município de Marília. Votação por maioria absoluta.
APROVADO por unanimidade em 1ª e 2ª discussões
A PAUTA DA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DESTA SEGUNDA (3)
I – PROCESSOS CONCLUSOS
1 – Primeira discussão do Projeto de Lei nº 71/2021, da Prefeitura Municipal, modificando a Lei nº 7945/2016, que institui o vale-alimentação para os servidores públicos municipais, atualizando o valor para R$ 420,00 a partir de 1 de abril de 2021 e dá outras providências. Votação por maioria absoluta.
APROVADO por unanimidade em 1ª e 2ª discussões
2 – Primeira discussão do Projeto de Lei nº 72/2021, da Prefeitura Municipal, modificando a Lei nº 8330/2018, que autoriza a Prefeitura Municipal de Marília, o Departamento de Água e Esgoto de Marília (DAEM) e o Instituto de Previdência do Município de Marília (IPREMM) a conceder mensalmente subsídio de caráter indenizatório a título de assistência médico-social aos seus inativos e pensionistas, alterando o valor para R$ 230 a partir 1 de abril de 2021 e dá outras providências. Votação por maioria absoluta.
APROVADO por unanimidade em 1ª e 2ª discussões
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