Indústria ferroviária nacional está sem nenhum pedido de fabricação de carros de passageiros para 2019. Frota utilizada em São Paulo agoniza nos pátios do Estado
Zero. Este era o número total de pedidos de fabricação de carros ferroviários de passageiros à indústria brasileira para 2019, pelo menos até a publicação deste post, em 21 de julho de 2018. A informação é do presidente do Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o dirigente afirmou que a produção deste ano, de 300 unidades, é semelhante à de 2017 entre "fabricantes de trens, VLTs, metrôs, monotrilo e metropolitano". O prazo médio de encomenda e entrega de carros de passageiros é de um ano e meio no país.
Atualmente, a Abifer conta com doze parceiras operadoras de passageiros - e, portanto, potenciais clientes da indústria nacional: CBTU, CCR Metrô Bahia, CTB, CPTM, Metrô Brasília, Metrô de Fortaleza, Metrô de São Paulo, Metrô Rio, Supervia, Trensurb, Via Quatro e VLT Carioca.
Operadora do único trem de longo percurso com circulação diária no Brasil, a Vale investiu US$ 80,2 milhões no começo desta década na aquisição de 56 novos carros de passageiros. Mas, os novos equipamentos, com tomadas individuais e ar-condicionado, vieram da Romênia.
ABANDONO
Enquanto o mercado nacional de carros de passageiros reduz drasticamente a marcha de produção, pátios ferroviários espalhados pelo Estado de São Paulo, por exemplo, seguem como cemitérios a céu aberto de antigos comboios que, outrora, conduziram milhões de pessoas pelos trilhos paulistas.
O caso mais próximo a Marília é de Triagem Paulista, em Bauru (SP). Ali, um patrimônio milionário enferruja, esquecido desde 2009. Entre tantos vagões fadados à sucata estão vários carros de passageiros que ainda resistem ao tempo apesar de saques, tiros e até incêndios supostamente criminosos.
Dois dos carros Budd Série 1000 fabricados na década de 1950 em Araraquara (SP) e que repousavam na gare de Bauru ganharam uma sobrevida em junho. Ambos foram doados à Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) que, agora, tem a missão de restaurá-los.
NOSTALGIA
Hoje abandonados, os carros de passageiros que ainda resistem serviram o povo paulista por décadas. O transporte ferroviário de passageiros nos trilhos do estado, aliás, datam de 1872, quando da inauguração do primeiro trecho pela Companhia Paulista de Estrada de Ferro (1868-1971), entre Jundiaí e Campinas.
O serviço foi ampliado por outras empresas - Estrada de Ferro Araraquara S/A (1895-1971), Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (1872-1971), Estrada de Ferro São Paulo e Minas (1890-1971) e Estrada de Ferro Sorocabana (1875-1971), entre outras menores - até a fusão que originou a Ferrovia Paulistas S/A, a Fepasa (1971-1998).
Em sua última fase estatal, o transporte de passageiros sofreu com contínuo processo de precarização, que culminou em sua paralisação gradativa em vários pontos do estado, sobretudo na década de 1990. Por força contratual, o serviço ainda continuou a ser oferecido, mesmo após a extinção da Fepasa, em 1998.
Mas não sobreviveu por muito tempo. A Ferrovias Bandeirantes, Ferroban (1998-2002) arrastou o transporte até 2001. O último trem de passageiros de longo percurso em trilhos paulistas deixou Campinas às 9h15 e alcançou a estação de Bauru, às 16h30 do dia 14 de março de 2001.
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