FÉ NA POLÍTICA
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FÉ NA POLÍTICA

Atualizado: 31 de mar. de 2022

Pastores e "ex-sacerdote" encaram ‘via crucis’ eleitoral por cadeiras na Câmara Municipal de Marília. Muitos foram os candidatos, apenas dois os escolhidos até hoje no Legislativo. Milhares de religiosos buscam a benção das urnas no país. Padre mariliense sacramenta apoio a candidato a prefeito de Quintana (SP), apesar de orientação contrária do bispo diocesano


Em nome do voto: milhares de religiosos buscam o voto no grande rebanho eleitoral neste domingo (15)

Convertidas pelas tábuas das novas regras enviadas pelo Congresso Nacional, as eleições municipais deste domingo (15) abrem um novo tempo na disputa pelas vagas do Legislativo. Cada partido ficou a Deus dará para alcançar as cadeiras prometidas pelo coeficiente eleitoral: média de salvação de apenas um candidato para cada 24 nas urnas.

Só com muitos votos – e fé de sobra – para se percorrer a ‘via crucis’ eleitoral por um lugar na Câmara Municipal de Marília. Que o digam os três únicos candidatos que têm a religião por ofício nestas eleições: os pastores Amauri (PDT) e Valter Paes (Avante) e Padre Urbano (PROS).

REBANHO DE CANDIDATOS

Os três estão entre os milhares de religiosos que buscam a bênção das urnas em todo o país. A ampla maioria é de pastores de diversas denominações evangélicas, além de padres licenciados e representantes de outras religiões.

A relação completa pode ser conferida no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o tse.jus.br, na aba ‘eleitor e eleições’ e, por fim, no item ‘estatísticas’. O rebanho de candidatos está distribuído majoritariamente na busca por vagas no Legislativo.

POUCOS ESCOLHIDOS

A identificação com o cargo religioso – padre, pastor, bispo, missionário, evangelista, irmã(o), pai, mãe, entre outros – não é garantia de vitória nas urnas. Em Marília, apenas dois destes candidatos alcançaram a glória da eleição nas últimas três décadas.

Os únicos já arrebatados pelos votos foram apenas dois pastores: o assembleiano Sérgio Aprígio Ferreira (PDC) e Luís Jorge Pereira Pontes, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para as legislaturas de 1993 a 1996 (13ª) e 2001 a 2004 (15ª), respectivamente.

No mais, todos os outros candidatos, mesmo que ungidos por suas lideranças, viram naufragar o propósito de serem escolhidos pelos eleitores, que se dividiram entre a fidelidade à indicação da igreja ou à própria consciência.


REDENÇÃO

De volta ao calvário das eleições, os pastores Amauri (PDT) e Valter Paes (Avante) tentam a redenção nas urnas pela 2ª vez. Amauri tentou em 2008, pelo PSDC (atual Democracia Cristã) e Valter Paes em 2016, pelo PT do B (atual Avante).

“A minha candidatura busca quebrar paradigmas”, diz Amauri, pastor titular da Igreja Batista Independente (IBI). “É uma forma de a sociedade ver que a igreja não está alienada, mas inserida na sociedade e a serviço dela”.
Fé na candidatura: pastor Amauri, da IBI, busca sua vaga na Câmara Municipal pela 2ª vez

Procurado pelo blog, o pastor Valter Paes, que preside a Igreja Evangélica Nova Canaã Independente de Marília, preferiu não se manifestar sobre sua nova candidatura.

"EX-PADRE"

Único sacerdote entre os candidatos ao Legislativo, Padre Urbano mantém o título apenas por prerrogativa sacramental - por sua natureza, irrevogável, segundo o Código Canônico. No entanto, ele já não integra o clero da Diocese de Marília pela qual atuou por 16 anos – entre 1984 a 2000.

“Continuo usando o título de padre porque nunca se deixa de ser. Ainda penso em voltar ao sacerdócio, mas talvez pela Igreja Anglicana”, comentou Urbano, que meses atrás integrava, voluntariamente, uma equipe da Pastoral de Rua de uma comunidade católica em Marília.

Padre Urbano Alicate, do PROS

Ex-filiado ao Partido Comunista do Brasil (PC do B), Urbano tentou ser vereador pela 1ª vez no mesmo ano em que se afastou da Igreja Católica. Foi em Votuporanga (SP). Obteve apenas sete votos. Ainda pelo PC do B, candidatou-se em Vera Cruz (SP), em 2016. Recebeu apenas 37.

PÚLPITOS

Questionados pelo blog sobre qual dos púlpitos o cristão poderia melhor exercer o evangelho sem negar a sua fé – o da Câmara ou o da própria igreja – o pastor Amauri e Padre Urbano foram uníssonos. “A fé faz parte do cotidiano do cristão e a pregação do evangelho deve estar impregnada na nossa vida”, afirmou o pastor.

Padre Urbano seguiu na mesma linha. “Creio que quando se age com sinceridade o lugar não importa. A Câmara pode ser um lugar sagrado tanto quanto a Igreja. Se o discurso do vereador está impregnado de sinceridade e de amor, ele está fazendo da vereança um verdadeiro sacerdócio”.

RESTRIÇÃO CANÔNICA

O afastamento de Urbano do uso de ordens da Igreja Católica foi, ao menos por ora, definitivo. Segundo reza o Direito Canônico, os clérigos são proibidos de exercerem cargos públicos – e, portanto, de se candidatarem – exceto se autorizados por seus bispos.

“A missão da Igreja não é indicar e nem vetar um candidato, mas colaborar através de seu ensinamento religioso e moral para que as pessoas, utilizando a sua consciência, escolham adequadamente os seus candidatos e votem de forma consciente”, afirmou o bispo de Marília, dom Luiz Antonio Cipolini, à Rádio Jovem Pan.
Palavra do bispo: dom Luiz Antonio Cipolini orientou padres a não indicar ou vetar candidatos nestas eleições

EM CAMPANHA

Apesar da orientação do episcopado local, o atual prefeito e candidato à reeleição à Prefeitura de Quintana (SP), Nilton Silvério (PV) tem entre seus principais ‘cabos eleitorais’ o pároco da igreja Nossa Senhora Aparecida, o padre Edson de Oliveira Lima. Procurado pelo blog, o religioso se posicionou.

“Eu participo e busco influenciar para um pensamento mais amplo da importância de se escolher pela competência e idoneidade. Tenho a consciência de deixar as pessoas livres para fazer o que desejarem”, justificou o sacerdote.
Com a bênção do padre: pároco de Quintana (SP) declarou sua escolha pela reeleição do atual prefeito

Padre Edson afirmou ainda não ser filiado a nenhum partido político e que “uma acurada leitura do cenário político é um dever e missão do padre que está verdadeiramente comprometido com sua comunidade e, sobretudo, com o Evangelho e sua luta pela justiça e a busca pelo reino de Deus”.

Não é a primeira vez que o padre manifesta publicamente seu ativismo político. Em 2016, ele apoiou o grupo que sustentou a candidatura do empresário Daniel Alonso (PSDB) à Prefeitura de Marília. O candidato venceu e ele acabou processado e condenado por injúria pelo principal concorrente derrotado.

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