HABEMUS FRATREM
- Rodrigo Viudes
- 20 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de mai.
Padre da Diocese de Marília é eleito primeiro brasileiro responsável geral da fraternidade sacerdotal Jesus Cáritas. Líder adamantinense pode encontrar-se com papa Leão 14 em Roma. Espiritualidade de seguidores de Foucauld contrasta com clericalismo advertido por Francisco

Escolhido sucessor de Francisco (1936-2025), o cardeal estadunidense-peruano, Robert Francis Prevost, 69 anos, iniciou oficialmente seu pontificado neste domingo (18), no Vaticano, em celebração acompanhada por 200 mil fiéis, segundo a Igreja Católica.
Na véspera, em Buenos Aires, capital da terra natal do antecessor do Papa Leão 14, na discrição de uma capela, 33 sacerdotes promoveram seu conclave, sem fumaça, nem alarde, para eleger seu novo líder mundial.

Pela primeira vez em 62 anos, a fraternidade sacerdotal Jesus Cáritas elegeu um brasileiro para conduzir o seu rebanho de batina. Por maioria de votos, o escolhido foi o padre Carlos Roberto dos Santos, 61 anos, nascido e ordenado na Diocese de Marília.
“Estou muito feliz. Em minha vida, nunca busquei cargo nenhum, embora tenham me dado alguns para servir”, afirmou o sacerdote ao blog. Ele ainda estava no início de seu mandato como representante da América. Em 2018, já respondia pela entidade no Brasil.

A posse do novo líder internacional da fraternidade sacerdotal natural de Adamantina (SP) também foi celebrada neste domingo (18), nos arredores portenhos tantas vezes visitados por Jorge Mário Bergoglio, na basílica de Nossa Senhora de Luján, padroeira da Argentina.
ENCONTRO COM PAPA
Alçado ao posto mais alto de sua fraternidade clerical, padre Carlos terá se ocupar por agora com as burocracias próprias do cargo, a começar pela escolha de seu conselho, formado por representantes continentais.
“Ainda terei mais um na França, para me ajudar com os arquivos da fraternidade e outro nas Filipinas, que será meu representante asiático por se tratar de uma viagem muito longa e cara”, explicou ao blog.
A nova agenda internacional do padre Carlos vai depender da disponibilidade de recursos da fraternidade, cuja maior fonte é o bolso dos mais de quatro mil padres diocesanos de 40 países que a compõem atualmente.

Ainda assim, ao menos um destino é provável: o Vaticano. “Neste cargo, pode acontecer de ter que ir ao encontro do papa Leão 14. Até hoje, nunca tive a oportunidade de me encontrar com o cardeal Robert Prevost, agora papa”, afirmou o sacerdote.
HUMILDADE X CLERICALISMO
Embora os padres diocesanos não façam voto de pobreza, a fraternidade tem sua referência em São Charles Foucauld (1858-1916), religioso francês cuja memória inspira seus seguidores pelos exemplos da simplicidade, humildade e oração.

Além da congregação Pequenos Irmãos de Jesus, fundada em 1933, outros sacerdotes criaram em 1951 a União Sacerdotal Jesus Cáritas que a partir de 1976 adotaria o nome atual. O primeiro responsável geral foi o francês Guy-Marie Riobé (1911–1978), em 1962.
“O nosso trabalho é muito intenso de orações todos os dias e de visita às comunidades”, explica o padre Carlos. “Vivemos a espiritualidade de Nazaré, sem aparecer. Jesus esteve conosco por 30 anos e ninguém sabia”, comparou.
O propósito de ministério dos padres da fraternidade se distancia ao de outros diocesanos que se renderam ao clericalismo – o apego ao poder, cargos e posses terrenas – chamado de “perversão da igreja” pelo Papa Francisco.

ORIGEM DIOCESANA
A caminhada na fraternidade acompanha a vida de padre Carlos desde seus tempos de seminarista, em 1992. À época, já estudava Teologia, a segunda graduação superior na formação dos padres após a Filosofia.
Ordenado em 1995 pelas mãos do atual bispo emérito, dom Osvaldo Giuntini, padre Carlos iniciou sua vida sacerdotal em 1996 como pároco em Marília, na paróquia Santa Rita de Cássia, da zona sul, onde permaneceu por 12 anos.

Em 2007, o sacerdote mudou-se para a França, onde fez seu mestrado. No retorno a Marília, assumiu aulas de disciplinas de Moral na Faculdade João Paulo II (Fajopa) até voltar a ser pároco, em 2015, na Matriz São Pedro Apóstolo, em Tupã (SP).
Cumpridos seis anos, padre Carlos foi transferido para a igreja onde foi ordenado, a Matriz Santo Antonio, em Adamantina. Desde janeiro de 2022 ele reside na Casa da Fraternidade (antigo Mosteiro da Anunciação) na cidade de Goiás (GO).
“MAIS ORAÇÃO”
Padre Carlos não é o único membro da fraternidade na Diocese de Marília. Os outros não seriam tantos, espalhados pela diocese. “Normalmente não falamos (quem são). Todos vivem de maneira simples”, afirmou.
Alguns destes membros, no entanto, contaram-se entre os colegas que participaram do retiro anual do clero diocesano de Marília realizado em setembro de 2024 no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP).

Na ocasião, o bispo de Marília, dom Luiz Antonio Cipolini, exortou aos padres em sua homilia na missa de despedida do retiro para que tivessem “sobriedade de vida” por “meio da oração”, “não sendo motivos de escândalos”.
CARTA EPISCOPAL
Na sexta-feira (23), quase uma semana após a eleição de padre Carlos na fraternidade sacerdotal, o bispo de Marília, dom Luiz Antonio Cipolini, divulgou carta pública "como pai e pastor".
"Rogo ao bom Deus que o oriente com sabedoria nesta nova função e, ao mesmo tempo, aproveito para agradecê-lo por todo o bem que o senhor fez à Diocese de Marília!", escreveu o bispo.
Confira a carta abaixo, na íntegra:

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