Renovado em menos de 50%, colegiado do presbitério da Diocese de Marília inicia novo biênio à prova da atuação de comissão recém-criada para apurar eventuais denúncias de delitos sexuais contra o próprio clero. Órgão consultivo não alcança mais do que um terço dos clérigos sob atual episcopado desde 2014. Contaminados por covid-19 em meio a um surto diocesano, padres se ausentam de primeira reunião, em Tupã (SP)
Renovado em menos de 50% em relação à composição escolhida para o biênio 2020-2021, o Conselho de Presbíteros da Diocese de Marília deve iniciar nesta sexta-feira (21) as atividades para o exercício 2022-2023.
O primeiro encontro está previsto para acontecer às 9 horas, na Paróquia São Pedro Apóstolo, em Tupã (SP). Como de costume, haverá profissão de fé e o rito de silêncio a que seus membros ficam comprometidos quanto aos assuntos tratados no conselho.
A reunião, no entanto, corria o risco de ser cancelada ainda nesta quinta (20) pelo presidente, o bispo diocesano de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini, em virtude da infecção de dois de seus membros pela covid-19.
BAIXA RENOVAÇÃO
Além do bispo, o Conselho de Presbíteros é formado por outros 13 membros. Quase a metade é dos chamados ‘natos’: o vigário geral, o coordenador diocesano de pastoral, os três vigários episcopais e o representante do presbitério.
Dos sete restantes, cinco são eleitos pelo presbitério – a exemplo dos vigários – e dois são indicados pelo bispo. Dos membros da última composição, há apenas seis novidades – portanto, menos de 50%.
Desta minoria, apenas três padres compõem o conselho pela primeira vez: André Luiz Martins dos Santos e Willians Roque de Brito, administradores paroquiais de Santa Edwiges e Santa Antonieta, ambas de Marília, respectivamente, e José Ribeiro da Silva, 65, pároco de Nossa Senhora Aparecida, de Flórida Paulista (SP).
Aos 34 anos, André e Willians são os mais jovens entre os 13 – e José Ribeiro, o mais idoso. “Vejo que a escolha dos irmãos presbíteros é também confiança. Apesar da juventude e pouco tempo de padre, acredito que posso contribuir”, afirmou André, que completa seis anos de ordenação neste sábado (22).
‘PERMANENTES’
Entre os sete que seguem no conselho em comparação à formação anterior, um cumpre o restante do ‘mandato’ de quatro anos: o representante dos presbíteros, Luiz Henrique de Araújo, pároco de Nossa Senhora Aparecida, de Ouro Verde (SP).
Entre os demais, três poderiam ser chamados de ‘permanentes’: o administrador paroquial da Catedral São Bento, José Orandi da Silva; o pároco de Santa Rita de Cássia de Marília, Marcos da Silva e o novo pároco de São Miguel Arcanjo de Marília, Wagner Montoz, cuja posse é neste sábado (22).
O trio participa do Conselho de Presbíteros pelo menos desde a primeira formação no episcopado de dom Luiz Antonio Cipolini, de 2014-2015. Desde então houve mais quatro – 2016-2018, 2019, 2020-2021 e 2022-2023.
“Exerço essa missão com espírito de serviço e corresponsabilidade para com Diocese e para com a vida ministerial de nosso clero”, afirmou o padre Marcos. A primeira participação dele no conselho é de 2013.
É o caso também de Wagner Montoz, já contado entre os conselheiros durante o episcopado de dom Osvaldo Giuntini, entre 1992 e 2013. “Não sou um padre em nada especial. Aliás, sou bem comum”, avaliou-se o sacerdote, que completará 31 anos de sacerdócio em 2 de fevereiro.
Dos cinco padres eleitos diretamente pelo presbitério em 14 de dezembro de 2021 na Casa Pastoral Dom Osvaldo Giuntini, em Adamantina (SP), apenas um foi reconduzido ao posto – e como o mais votado, pela 2ª vez seguida.
Trata-se do administrador paroquial de São Pedro Apóstolo de Paulicéia (SP), Marcelo Feltri Ribeiro. Aos 36 anos, ele ainda vai completar cinco anos de sacerdócio, em 22 de setembro deste ano.
TERÇO DIOCESANO
Considerado apenas o episcopado atual, só 31 padres se revezaram para compor o conselho de presbíteros desde 2014. O número corresponde a um terço do clero atual da Diocese de Marilia.
Não entram nesta conta e, muito menos no conselho de presbíteros, os novos 32 diáconos permanentes ordenados em 2021. Segundo o estatuto, a constituição deste colegiado é restrita a “presbíteros diocesanos incardinados e religiosos que exerçam algum ofício pastoral”.
Segundo apurou o blog, motivos não faltam para justificar a baixa adesão do clero ao próprio conselho que os representa. Há quem alega idade, saúde, agenda paroquial, ou desinteresse mesmo – inclusive ao bispo.
VULNERABILIDADE
Foro eclesiástico exclusivo ao longo de décadas para analisar denúncias de questões morais envolvendo padres da diocese de Marília, o Conselho de Presbíteros não estará mais sozinho para atender esta demanda a partir deste biênio.
Apresentada em novembro de 2021, a Comissão Diocesana para Tutela de Menores e Pessoas em Situação de Vulnerabilidade tem a prerrogativa de ser a porta de entrada de eventuais denúncias contra membros do clero em Marília.
A exemplo do conselho, a comissão é presidida pelo bispo diocesano e tem entre seus membros também o vigário geral, Maurício Pereira Sevilha e o coordenador diocesano de pastoral, Marcos da Silva.
Ou seja: o conselho se faz representado na comissão por alguns de seus membros natos, pela qual encaminhará as apurações a serem deliberadas no próprio conselho. Um órgão complementa o outro neste assunto.
Do que já se tem conhecimento público, o conselho acompanha os desdobramentos jurídicos referentes ao padre Denismar Rodrigo André, preso em julho de 2019 sob acusação de manter arquivos com imagens de pornografia infantil.
A audiência pública de instrução do processo foi agendada para o dia 28 de setembro pela Justiça de Tupã. Enquanto o caso se arrasta, o padre é contado oficialmente entre os membros do clero da Diocese de Marília.
Segundo reza o regulamento da comissão, novas denúncias de abuso sexual contra representantes do clero podem ser feitas pessoalmente, por escrito, por e-mail, por carta registrada, por autoridades civis ou pela imprensa.
Caso o denunciado seja o próprio bispo, os caminhos podem ser os mesmos, além de uma representação na Nunciatura Apostólica no Brasil, seja pelo site ou pessoalmente, de segunda a sexta, das 8h30 às 13h e das 14h às 16h30, no SES 801, Lote 1, em Brasília (DF).
SURTO NO CLERO
Pelo menos dois padres que compõem a nova formação do Conselho de Presbíteros não estarão nesta manhã em Tupã (SP). Motivo: foram contaminados pelo vírus da Covid-19 e estão em quarentena.
São os casos do coordenador diocesano de pastoral, Marcos da Silva e do novo vigário episcopal da região I, Anderson Messina Perini. Procurados pelo blog nesta quinta (20), ambos informaram estar em franca recuperação.
As duas baixas de última hora no Conselho de Presbíteros acontecem em meio a uma semana marcada por um surto que atingiu o clero da Diocese de Marília provocada pelo avanço dos casos da variante ômicron em toda a região.
Além dos dois padres, pelo menos outros cinco foram infectados. O bispo emérito, Dom Osvaldo Giuntini, 85, recebeu alta hospitalar na quarta-feira (19), seis dias após ser internado por causa da doença.
O próprio bispo diocesano, Dom Luiz Antonio Cipolini, acaba de se recuperar da Covid-19. Do início da pandemia no país, em fevereiro de 2020, até o momento, a diocese perdeu o padre Veríssimo Mânfio, dia 7 de outubro de 2021, aos 89 anos.
A outra perda, pelo mesmo motivo, foi da fundadora do Mosteiro Maria Imaculada de Marília, madre Marlene Inácia de Jesus Hóstia, aos 71 anos, em agosto do ano passado. Ex-pároco da Santa Izabel, o padre José Carlos Rodrigues também perdeu a batalha para a covid-19, em dezembro de 2020, aos 58 anos.
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