Cúria e padres se calam sobre afastamento de vigário paroquial de Bastos (SP). Nova baixa temporária no clero é a 2ª de ‘ordenação recorde’ de nove sacerdotes. Conteúdo sobre comissão para denúncias de crimes sexuais só reaparece no novo site da Diocese de Marília após cobrança de blog. Apesar de revogação de proibições a eventos religiosos, católicos mantêm fé na proteção facial
Manhã de 23 de janeiro de 2022. O vigário Silvio Cesar Quaio celebra a missa dominical do 3º Domingo Comum. Ao proclamar o evangelho daquele dia, segundo a liturgia católica, ele relata o início do Evangelho de Lucas, que diz ter feito “um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio”.
Mal sabiam, ao menos os fiéis da Paróquia São Francisco Xavier, de Bastos (SP), que aquela celebração marcaria o fim da curta passagem do então vigário pela comunidade pertencente à jurisdição da Diocese de Marília.
Ainda na semana seguinte, Quaio deixaria a comunidade, sem nenhum aviso ou formalidades eclesiais de praxe – algo alheio às condições comuns quando das transferências regulares ou extraordinária de sacerdotes.
JUSTIFICATIVAS PÚBLICAS
A saída do vigário surpreendeu os fiéis em Bastos (SP). A primeira manifestação ‘oficial’ da comunidade foi uma publicação já no sábado seguinte (29), sem quaisquer dizeres, exceto as palavras ‘Gratidão Pe. Silvio’ em foto publicada em sua página no Facebook.
Coube ao pároco, Pe. Adriano Alves Pereira, já nos avisos finais da missa dominical seguinte, após “tantas coisas boas acontecendo”, como destacou, dar uma satisfação pública aos fiéis sobre o episódio.
Inicialmente, o padre disse ter sido consultado pelo bispo se “aceitaria um vigário”, a quem definiu como função “sem estabilidade” e que “não está a serviço da paróquia, mas um colaborador do pároco”, referindo-se ao cânone 545 do Código Canônico.
“Neste tempo que ele permaneceu conosco, ele celebrou bem, colaborou muito comigo fazendo os batizados, os casamentos, visitando os hospitais, fazendo as exéquias, a unção, colaborando no atendimento. Naquilo que é o trabalho pastoral, ele colaborou muito com o pároco”, afirmou o padre.
Ao final de suas explicações, o sacerdote afirmou que o bispo teria “chamado o vigário para outro caminho” e terminou falando sobre “obediência aos superiores”. “Nem sempre é algo agradável, mas conduz à graça de Deus”.
USO DE ORDENS
Na prática, no entanto, o “outro caminho” para o ex-vigário foi o de casa, ao menos por enquanto. Desde sua retirada de Bastos (SP), Silvio Quaio não foi designado para nenhuma outra paróquia ou função.
Consta apenas que esteja em ‘uso de ordens’, condição mais comum no presbitério diocesano à de padres com mais de 75 anos ou que estejam em período de “tempo de repouso” a exemplo do padre Carlos Roberto dos Santos e do cônego José Carlos Dias Toffoli.
A condição atual do ex-vigário se assemelha à de um funcionário afastado do serviço sem suposta perda de remuneração. A diferença é que ele não foi designado imediatamente a ocupar nenhuma outra ‘filial’ diocesana.
Silvio Quaio ficou praticamente apenas um ano na Paróquia São Francisco Xavier. Antes, então recém-ordenado, ele havia sido designado também vigário das Paróquias Sagrado Coração de Jesus, de Marília (SP) e Nossa Senhora Auxiliadora, do distrito de Avencas.
Quaio é egresso de uma safra coletiva histórica de novos presbíteros na Diocese de Marília. Ele foi um dos nove ordenados em 2018 – um recorde na Igreja Particular local. Mas, já é o 2º a sair de cena, ao menos temporariamente.
Em julho de 2019, o padre Denismar Rodrigo André, então administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima do bairro Jóquei Clube de Marília (SP) foi preso em Tupã (SP) na Operação Querubim, acusado de posse de pornografia infantil.
Solto após pagamento de fiança, o padre Denis, como é conhecido, foi afastado ad cautelam “até que o inquérito policial seja concluído”, segundo divulgou a Diocese de Marília em nota assinada pelo bispo diocesano.
SILÊNCIO
Apesar das justificativas públicas, citadas no início deste post, não há nenhuma palavra oficial da Diocese de Marilia sobre a saída repentina do último ex-vigário de Bastos (SP). Impera um silêncio geral.
Procurada pelo blog, a diocese não respondeu sobre os motivos – ao menos, os presbiterais –, nem tampouco se a retirada teria relação com alguma denúncia apresentada à recém instalada Comissão Diocesana para Tutela de Menores e Pessoas em Situação de Vulnerabilidade.
A liderança do Conselho Paroquial de Pastoral (CPP) da paróquia de Bastos também não retornou ao contato feito por um aplicativo de mensagens. O pároco, por sua vez, informou pela secretaria que “apenas o bispo pode responder sua pergunta”.
Por duas vezes o blog procurou o padre Silvio Quaio por uma rede social. O aplicativo acusa visualização. Não houve retorno, exceto para os seus agora ex-paroquianos com os quais tem interagido em seu perfil no Facebook, onde segue ativo.
O ex-vigário de Bastos aparenta estar curtindo sua fase de afastamento. Na última segunda (21), por exemplo, ele postou fotos em um clube social de Barretos (SP) - cidade conhecida no clero por ser destino comum de padres que precisam de um tempo para discernimento.
DENÚNCIAS OFFLINE
A disponibilidade de acesso digital não era a mesma, até a última sexta-feira (18), à Comissão Diocesana para Tutela de Menores e Pessoas em Situação de Vulnerabilidade no novo site da Diocese de Marília.
Nem a notícia sobre a instalação do novo organismo constava, entre dezenas de outras retroativas, até que fosse republicada na nova plataforma após o questionamento do blog, ainda na sexta (18).
Tão logo fique acessível apenas pela opção de busca de notícias, a comissão ficará ‘escondida’ dentro do novo site. Não há nenhum acesso permanente, seja pelo menu disponível, tampouco por um banner.
Ou seja: qualquer pessoa que queira fazer uma denúncia e dependa do site terá que fazer uma peregrinação digital até encontrar os meios pelos quais pode formalizá-la – ou ter que deslocar-se à Cúria.
Segundo o link acrescentado às pressas ao novo site constam apenas dois contatos: comissaotutela@yahoo.com.br e o (14) 3401-2360. Há outros caminhos, inclusive pela imprensa – este blog, por exemplo – segundo consta no próprio regulamento da comissão.
FÉ NAS MÁSCARAS
Decreto publicado pela Diocese de Marília na sexta-feira (18) revogou as proibições a aglomerações que constavam em outro, de 3 de setembro de 2021. Na prática, os eventos religiosos comunitários voltaram a ser autorizados.
O bispo diocesano alerta, no entanto, a observância das “orientações dos órgãos públicos quanto à manutenção de protocolos sanitários do Estado de São Paulo, bem como de órgãos locais quanto a situações particulares de cada cidade”.
A decisão episcopal ocorreu no dia seguinte ao decreto do governo paulista que restringiu o uso obrigatório de máscaras de proteção facial aos “locais destinados à prestação de serviços de saúde” e “meios de transporte coletivo de passageiros”.
As igrejas, portanto, por menores que sejam, ficam desobrigadas, à luz da nova legislação estadual, a exigir de seus fiéis o uso da máscara – algo que não consta explicitamente no decreto do bispo.
Em tese, nem precisaria. Ao menos por enquanto, os católicos seguem fiéis, em maioria, ao uso da máscara facial. Foi o que se observou, por exemplo, em diversas paróquias de Marília neste sábado (19) após um giro presencial e digital do blog.
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