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Atualizado: 31 de mar. de 2022

Carreata alviceleste da Padroeira verde e amarela ganha inusitada conotação política às vésperas do 2º turno das eleições presidenciais do Brasil

Carreata de Nossa Senhora Aparecida, nesta sexta (12), em Marília (SP), com bandeira nacional à frente

Buzinaço, rojões, gente com camiseta personalizada, carro de som e uma grande bandeira do Brasil à frente. Até parecia a reprise de uma mobilização que reuniu centenas de carros há poucos dias em Marília. Só que não: a carreata, em 12 de outubro, era para Nossa Senhora Aparecida mesmo.

Desta vez, no entanto, a proximidade com o 2º turno das eleições presidenciais, marcadas para o dia 28 de outubro, provocou uma curiosa conotação política a esta tradicional manifestação da devoção católica que, em outros anos, não despertaria mais do que a fé de uns e a indiferença de outros.

O fato é que a Padroeira é do Brasil. Não por acaso, a sua exibição pública costuma estar acompanhada da bandeira nacional. E o uso do símbolo máximo da nação, mesmo que dentro de seu contexto religioso, pode não ser compreendido por aqueles que enxergam apenas política no andor da fé.

Foi o que se observou, por exemplo, na carreata organizada nesta sexta-feira (12) pela Paróquia Sagrada Família, de Marília (SP). Enquanto a santa passava, havia quem ignorasse a representação religiosa para remetê-la a outra, presidenciável, com palavras de ordem e palmas.

Vivemos tempos estranhos. Em outras circunstâncias, por questões de natureza teológica, haveria quem escondesse os olhos do alcance de Nossa Senhora - o que não deixou de ocorrer, de novo, naturalmente. Mas utilizar-se desta devoção para a prática de um certo tipo de adoração política é inusitado.

Como é sabido, pelo menos por aqueles que se importam em entender a doutrina católica, Maria pode até ser a Mãe de Deus, mas continua criatura. Especialíssima, mas, ainda sim, criatura. E seus devotos sabem - ou, deveriam saber - que, ela é venerada por ser humana.

Não é 'apenas assim' que milhões de brasileiros têm tratado atualmente um outro Messias de carne e osso. Enxergam-no um 'Salvador' que, uma vez entronado no mais alto palácio da República, cumprirá com suas promessas de um país mais honesto, cristão, justo e patriótico.

Essa idolatria, por si só, contradiz o sentido de cada uma das prerrogativas que se esperam cumpridas em um eventual futuro mandato. A fé, sobretudo em políticos, precisa estar resguardada da natural desconfiança que se deve ter do ocupante de qualquer cargo. Porque é humano. Porque não é Deus.

Além do mais, a história recente da política brasileira apresenta-nos uma dura lição de desesperança, sofrida após desmedida confiança. O discurso da mudança sucumbiu a escândalos bilionários de corrupção e quem era o presidente - ou ainda um semideus, para muitos -, tornou-se presidiário.

Seja lá qual for o novo presidente, definido pela crença popular manifestada pelo voto, neste e nos pleitos vindouros, Nossa Senhora continuará a ser carregada por sua multidão de fieis, eleita como a intercessora de católicos espalhados por todo o planeta. Maria não precisou fazer campanha. Ela já foi escolhida.




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