Atos, fatos e contextos dos primeiros 31 dias do segundo governo municipal de Camarinha em Marília com apuração jornalística independente e comprometida com (e)leitor mariliense.

Eleito pela segunda vez prefeito de Marília em outubro de 2024, o ex-deputado estadual, Vinicius Camarinha (PSDB), completou o primeiro mês no novo cargo público na última sexta-feira (31).
Curto, porém, intenso período de governo municipal, acelerado por uma agenda de entregas rápidas prometidos em campanha, mas reduzido a contratempo por uma cirurgia de emergência do novo tempo.
Neste texto, o blog analisa o começo da nova administração por si mesma em dez tópicos, seja por atos, fatos e contextos, com apuração jornalística independente e comprometida com (e)leitor mariliense.

CONTAS MUNICIPAIS
Em seu primeiro ato público de governo, Vinicius apresentou um saldo de R$ 3,1 milhões nas contas do município e priorizou o pagamento aos servidores com quem havia travado uma greve histórica de 32 dias em seu primeiro governo.
Em apenas sete dias, a prefeitura anuncia já ter pago 78% da categoria que recebe até R$ 4.223,00 em primeiro contato com sindicato. Criticado por Vinicius, o ex-prefeito Daniel Alonso (PL) afirmou ao blog que o recurso chegaria aos cofres da prefeitura.
Apesar da cena de penúria exposta por Vinicius, Marília terminou janeiro com receita de R$ 112,2 milhões arrecadados ante despesas de R$ 99,1 milhões – saldo positivo de R$ 13,1 milhões – segundo Portal da Transparência da Prefeitura de Marília.

ESTILO DÓRIA
Ainda nos primeiros dias de sua administração, Vinicius recorreu a coletivas de imprensa para anúncios e despachos de gabinete em público e vestiu-se a caráter, como agente de trânsito, para cortar os fios de um radar.
Além da presença física, Vinicius tem dialogado com a população através de suas contas pessoais nas redes sociais. O cidadão mariliense pode acompanhar a agenda do prefeito pelo celular, quase que em tempo real.
O comportamento de gestão assemelha Vinicius ao estilo do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, João Doria (sem partido), seja na presença digital, na linguagem populista e na visão política liberal.
PROXIMIDADE
Herdeiro de uma gestão lastreada de demandas a serem resolvidas - muitas delas, inclusas em seu plano de governo - Vinicius iniciou seu governo frente a frente com a população, literalmente.

Em gesto simbólico, liberou acesso direto ao seu gabinete no paço municipal, ao mesmo tempo em que se manteve em contato com populares em agenda estratégica de visitas em ambientes carentes de sua intervenção como prefeito.
O itinerário do diálogo de janeiro de Vinicius, assumido em campanha, será colocado à prova durante o mandato à medida que tiver de responder à população por erros praticados por sua própria administração.
RADARES
Em sua primeira performance a caráter, Vinicius cumpriu promessa de “suspender os radares” violando um equipamento alugado após publicação de portaria administrativa, conforme o blog explica AQUI.
Defensor da fiscalização eletrônica de velocidade no trânsito, o colunista Sérgio Avelleda associou o ato de Vinicius a um “retrocesso”, “tal qual Odorico Paraguaçu”, referindo-se ao prefeito da fictícia Sucupira da novela ‘O Bem Amado’, de Dias Gomes (1922-1999).
A cena ainda repercutia no 31º e último dia de janeiro na capa do UOL. No mesmo portal, o colunista Josias de Souza classificou o gesto de Vinicius como “um populismo mórbido”. “O eleitor deveria observar o personagem”, disse.
Ainda na sexta-feira (31), em entrevista ao Jovem Pan Morning Show, Vinicius repetiu argumentos e admitiu rever decisão em caso de aumento de mortes no trânsito. “Só não muda quem é ignorante”, disse.
Embora tenha solicitado à população o respeito aos limites de velocidade, Vinicius preferiu a narrativa eleitoral a esclarecer ao eleitor/motorista que os radares continuam a multar demais infrações de trânsito.
ENTREGA RÁPIDA
Eleito para os próximos quatro anos de governo, o novo prefeito elencou ações que pudessem apresentar melhorias o quanto antes à população, provendo a percepção pública do início de uma nova gestão.

Por isso, a prioridade com a zeladoria da cidade, por exemplo. O matagal comum nestes dias chuvosos de janeiro tem sido eliminado de praças públicas enquanto a Emdurb completa a estética de limpeza com a pintura de guias e sinalizações de trânsito.
Na redes sociais, Vinicius expôs as mazelas da gestão anterior: banheiros quebrados na rodoviária, cupim em posto de saúde e paredes por cair em uma escola municipal. “Cidade precisa estar bonita, cuidada”, repete.
ZERA FILA
Listada como prioridade do novo governo municipal, a Saúde entrou cena na segunda semana de governo pelas vias da prevenção contra a dengue com nebulizações, bloqueios e a coleta de inservíveis pela operação Cata-Treco.

Depois de visitar uma unidade de saúde e anunciar um programa de reforma em outros postos, Vinicius lançou, dia 21, o Programa Ganha Tempo/Zera Fila para redução da espera para consultas, exames e cirurgias em diversas especialidades médicas.
Na prática, o município contrata serviços particulares para atender a população. Foram anunciados R$ 9 milhões. Em janeiro, haviam sido iniciados os atendimentos apenas da ortopedia no ambulatório médico da Universidade de Marília (Unimar).
Enquanto isso, Vinicius já se movimenta para agregar à sua gestão a instalação do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) do governo paulista. A inclusão de Marília entre as próximas sedes foi anunciada em dezembro de 2024 pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas redes sociais da deputada mariliense Dani Alonso (PL).

RELAÇÕES LEGISLATIVAS
Com a renúncia de Vinicius em seu mandato como deputado estadual, Dani passou a ser a única representante de Marília na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para o biênio 2025-2026.
Filha do ex-prefeito Daniel Alonso (PL), rival político de Vinicius, a deputada não terá mais o pai para quem enviar emendas parlamentares, mas o próprio eleitorado, ainda que não tenha afinidade com o novo chefe do Executivo.
A exemplo de Dani, Vinicius também compôs base de apoio na Alesp ao governador, a quem agora recorre em busca de recursos e obras para Marília, com a vantagem de duas décadas de lastro de convivências e contatos no legislativo paulista.
Na última semana de janeiro Vinicius reuniu-se com os secretários Eleuses Paiva (Saúde) e, enquanto se recuperava de cirurgia em São Paulo, com Gilberto Kassab (Governo e Relações Institucionais) e Guilherme Derrite (Segurança Pública).
SECRETARIADO
Vinicius iniciou seu governo com todos os secretários municipais e demais cargos de primeiro escalão anunciados com antecedência. Nem todas as vagas foram preenchidas em vista à futura reforma administrativa e suas fusões de pastas.

No fim de janeiro, apenas a secretária de Educação, Cilmara Carreiro Piza, ainda aguardava sua nomeação em atividade. Ex-dirigente de ensino de Marília, ela é servidora pública estadual e depende de cessão ao município pelo governo paulista.
Em seu critério de escolhas, Vinicius identificou nomes que contribuiriam ao município com seus históricos profissionais e políticos, mas relegou as suplências a indicações pessoais nem sempre alinhadas à competência dos titulares dos cargos.
O prefeito terminou o primeiro mês de governo sem indicar o seu nome à presidência da Agência Municipal de Água e Esgoto (Amae), hoje ocupada por João Carlos Polegato, nomeado por Daniel Alonso (PL).

Segundo estatuto aprovado por lei, o dirigente da agência reguladora tem estabilidade de quatro anos no cargo. O dispositivo é uma tentativa de blindagem contra interferências políticas na fiscalização do saneamento básico.
A alteração deste ‘status quo’ depende do envio e a aprovação de projeto pelo Executivo à Câmara Municipal, onde Vinicius tem ampla maioria no novo plenário de 17 cadeiras. O recesso parlamentar terminou na sexta-feira (31).
CONCESSÕES MUNICIPAIS
Ainda na primeira semana de governo, Vinicius se deparou com um reajuste no valor da tarifa do estacionamento rotativo nas ruas centrais de Marília, concedido de véspera de fim de ano pela presidência anterior da Emdurb.
O blog teve acesso ao documento público de natureza apócrifa. Ou seja: tratado apenas em tramitação administrativa, sem publicação e ainda no aguardo de confirmação, por decreto, pelo poder concedente. No caso, o prefeito.
Vinicius, por sua vez, determinou ao novo presidente da Emdurb, Paulo Alves, que providenciasse portaria, publicada dia 7, em que determina que a concessionária “se abstenha de efetuar qualquer reajuste sem a publicação de decreto do Executivo”.

Além da Zona Azul, a concessão do saneamento básico entrou na pauta de anúncios do governo municipal, na segunda semana. Vinicius solicitou investigação do processo licitatório de seu antecessor na Corregedoria Geral do Município.
Não apenas isso: convocou a população a denunciar o consórcio que assumiu o serviço, RIC Ambiental, para, “se for o caso, reverter a concessão”. Ou seja, alinha-se aos reclames para ganhar tempo jurídico, político e econômico.
CIRURGIA
A intensa agenda de início de governo de Vinicius foi interrompida na sexta-feira (24), véspera do 471º aniversário da cidade de São Paulo, onde o prefeito cumpria agenda com a secretária de Saúde, Paloma Libânio.
O blog apurou que o prefeito sentiu fortes dores abdominais e precisou ser levado às pressas ao Hospital do Servidor Público Estadual, onde acabou submetido a uma cirurgia de emergência para a retirada da vesícula.
Ainda em recuperação pós-cirúrgica, Vinicius manteve agenda política em São Paulo no início da última semana de janeiro enquanto o vice, Rogério Alexandre de Graça, o Rogerinho (PP), o representou em agenda em Marília.

Não foi desta vez que o pepista assumiu a caneta de Vinicius. O artigo 57 da Lei Orgânica do Município de Marília (LOMM) não permite que prefeito e vice se ausentem por mais de 20 dias da cidade, sem licença da Câmara Municipal, sob pena de perda de mandato.
Vinicius já retornou a Marília. No domingo (2), postou foto de lanchinho na casa da família. Rogerinho, por sua vez, ainda terá 1.427 dias pela frente para experimentar o poder. O governo apenas começou.
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