Campanha católica põe maioria estatística de cristãos em Marília à prova de amizade social proposta por Francisco. Expansão extraoficial de 15% no número de igrejas e templos em 17 anos na cidade alarga vizinhança ecumênica. Ano eleitoral desafia supostos fieis ao Amor ao diálogo político sem ódio
Irmãos pela Eucaristia, católicos de todo o Brasil celebram nesta Quarta-Feira de Cinzas (14), data do início da Quaresma (40 dias que antecedem a Páscoa), a abertura da 60ª Campanha da Fraternidade (CF-2024).
Na Diocese de Marília, como de costume, cada uma das 65 paróquias terá sua própria missa em que o padre impõe as cinzas na fronte dos fiéis – símbolo de finitude e penitência. Clique AQUI e confira os horários das celebrações na cidade.
Inspirado na Carta Encíclica Fratelli Tutti (Todos Irmãos, em italiano), do Papa Francisco, publicada em 2020, o tema deste ano, “Fraternidade e Amizade Social” desafia os católicos à ‘Igreja em Saída’ desejada pelo pontífice.
CONTEXTO
Segundo o documento papal, a amizade social é definida como “uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independente da sua proximidade”, tal qual uma comunidade de irmãos “que se acolhem mutuamente”.
Nesta CF, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convoca os fiéis a “superar a cultura da indiferença para com os outros, que nos torna como que portadores do mal da cegueira, da insensibilidade diante das necessidades alheias”.
Na prática, a Igreja Católica exorta seu povo à abertura de diálogo sincero e acolhedor com iguais e diferentes de profissão de fé, ideologia política, gênero, orientação sexual, etnia, raça, idade e realidade social.
Enquanto isso, há “católicos de verdade”, assim autodenominados, contados entre os ultraconservadores, que interpretam o cartaz da CF-2024, em suas cores e personagens, como “ideologia” e “instauração da revolução” pela CNBB.
Em seu canal no Youtube, o padre José Carlos Pereira, também o explica o cartaz da CF-2024, segundo o documento oficial. Compare ambos os vídeos e tire suas conclusões sobre quem, de fato, leva a acolhida do evangelho de Jesus Cristo a sério.
MAIORIA?
Em Marília, a mensagem da CF-2024 deve atingir, diretamente, a maioria estatística daqueles que professam a fé católica – eram 135,3 mil em 2010, de acordo com o Censo. Eram 62% da população, então de 216.745 habitantes.
À época, os que se identificavam como evangélicos eram 54,9 mil (25,3%), ainda de acordo com os números mais atualizados, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dados preliminares do Censo 2022, divulgados em 2 de fevereiro, identificaram 437 endereços de igrejas e templos na cidade. O número é 15,6% maior aos 378 catalogados em 2007, em levantamento inédito feito pelo editor deste blog ao Jornal da Manhã (JM).
A média de um ponto de culto ou doutrina estimada a cada 600 habitantes de 17 anos atrás foi reduzida a 543 pelo Censo atual, ainda que o blog tenha identificado a não inclusão das coordenadas geográficas de várias denominações.
Mesmo assim, há mais espaço religioso ao diálogo ecumênico, sem proselitismo, como orienta a CF-2024, a depender da iniciativa dos fiéis. O último (e único) movimento institucional entre igrejas foi o ‘Grito dos Excluídos’, em setembro de 2022.
Apesar dos números oficiais, o rebanho católico anda reduzido. “Apenas 20% de nossos leigos frequentam as missas”, afirmou o então bispo de Marília, hoje emérito, dom Osvaldo Giuntini, em 2007, ao Especial Religiões e Doutrinas, do JM.
Não há números oficiais atuais da participação ativa de fiéis em missas, pastorais, movimentos, grupos e equipes na Diocese de Marília. Mas a baixa adesão pode ser observada nas celebrações paroquiais e nas diocesanas, conforme já analisou este blog.
HIPOCRISIA ELEITORAL
O apelo da CF-2024 em ano de Eleições Municipais é um desafio aos católicos, mas também àqueles outros que professam a fé em Jesus Cristo – o próprio Amor, segundo os cristãos – e destilam ódio por diferenças ideológicas e políticas.
Com eleitorado majoritariamente feminino, casado, com ciclos de ensino completos e, por amostragem populacional, cristão, o(a) fiel eleitor(a) mariliense já se depara, sobretudo nos meios digitais, com toda sorte de agressões a adversários políticos.
Trata-se de uma das hipocrisias mais comuns da polarização político-religiosa destes tempos pós-modernos: comunga-se, cultua-se a Deus e, inclusive no templo e fora dele, serve-se à diabólica sanha eleitoral pela alienação através da ‘fé’.
“Não importa se nos imaginamos melhores por sermos de direita, centro ou esquerda. Recusamos o diálogo com o diferente e acabamos por nos fechar até mesmo a Deus”, analisa o coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, Francisco Borba Ribeiro Neto, no ‘O São Paulo’, semanário da Arquidiocese de São Paulo.
"A CF quer conscientizar sobre a necessidade de construir a unidade em meio à pluralidade, superando as divisões. Também quer incentivar e promover iniciativas de reconciliação entre pessoas, famílias e grupos", conclui o padre o coordenador diocesano da CF em Marília, o padre Danilo Nobre dos Santos, ao informativo 'No Meio de Nós', da Diocese de Marília.
Comments