À espera de novas ordenações, Diocese de Marília mantém estabilidade de quadro deficitário de padres. Citação inédita de seminaristas expõe escassez de vocações. Comissões diocesanas vacantes por afastamentos e morte de padre têm novos assessores. Vinda de orionitas dá sobrevida a casa de recuperação de dependentes químicos de Dracena (SP). Padre acusado de armazenar pornografia infantil presta depoimento em março
Ainda que tenha sofrido algumas baixas, o número de sacerdotes incardinados na Diocese de Marília manteve-se estável na comparação com clero disponível no início de 2022, ano jubilar de 70 anos desta jurisdição da Igreja Católica.
O presbitério atualizado consta do Guia Diocesano 2023, disponível há uma semana no site da Diocese de Marília, cujos dados foram analisados pelo blog. Haverá ainda a versão impressa a ser distribuída às paróquias.
Dos padres diocesanos citados na edição de 2022, a principal ausência é a de Cecílio Davi (1954-2022), falecido em 21 de novembro, a 19 dias de completar seu primeiro ano de ordenação sacerdotal após quase três décadas de espera.
Outros dois padres que haviam iniciado o ano anterior em atividade no ministério agora constam com ‘status’ de uso de ordens. Ex-vigário da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, de Marília, Edson Luís Barbosa da Silva havia pedido afastamento em maio.
Ao padre Sérgio Luiz Roncon foi concedido um tempo de repouso válido desde 1º de janeiro deste ano, com término a critério do próprio bispo, conforme consta no artigo 101 do Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros.
Aos 56 anos e ordenado há três décadas, Roncon acumulava o pastoreio das paróquias São José, de Flora Rica (SP) e Santa Genoveva, de Irapuru (SP), distantes apenas 13 quilômetros uma da outra.
A jornada dupla em comunidades de cidades diferentes ainda é a rotina de outros seis padres na Diocese de Marília. O passionista Rogério de Lima Mendes segue cuidando de três em Osvaldo Cruz (SP), Salmourão (SP) e Sagres (SP).
Das 65 paróquias, em 33 (uma a mais que a metade) o padre atua sozinho. Não há a companhia sequer de um vigário ou mesmo de diáconos permanentes, agregados ao clero no início de 2022.
A exemplo do presbitério, o diaconato composto por 33 leigos sofreu uma baixa por falecimento. Valdeci José de Andrade (1964-2022) atuava na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Pompéia (SP), onde foi sepultado.
POUCAS VOCAÇÕES
A insuficiência de padres para o atendimento em todas as paróquias ainda deve permanecer inalterada por tempo indeterminado a considerar a disponibilidade, hoje, de futuros ordenados.
A última ordenação sacerdotal na Diocese de Marília é do falecido Cecílio Davi, de 10 de dezembro de 2021. Um ano e seis dias depois, tornaram-se diáconos transitórios Bruno Franco de Lima, 36 anos; Guilherme Ulian e Muriel Filippe da Silva, ambos de 26.
Além deles, a Igreja Particular local conta com 20 seminaristas, cujos nomes foram divulgados pela primeira vez no Guia Diocesano. Três estão no Propedêutico, cinco na Filosofia e 12 na Teologia. O tempo médio de formação é de oito a dez anos.
Mesmo que todos alcancem o sacerdócio, a Diocese de Marília ainda demandará da quantidade igual ou superior de vocações para preencher os espaços atuais e ainda aliviar o fardo dos que já estão no ministério.
Quanto aos diáconos, ainda não haveria previsão de formação de nova turma na Escola Diaconal São Lourenço. Instituída em 2015 na Diocese de Marília, dispõe de carga horária de mil aulas/horas, lecionadas em três anos.
As pouco mais de três dezenas de diáconos formados estão concentrados principalmente em cidades próximas a Marília. São 18 no entorno, sete em 21 paróquias entre Herculândia (SP) e Adamantina (SP) e outros sete entre Flórida Paulista (SP) e Panorama (SP).
NOVAS ASSESSORIAS
As alterações no quadro do presbitério ao longo de 2022 afetou algumas assessorias das comissões diocesanas, deixando-as vacantes. Estes organismos atuam em sintonia com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE) vigente.
A assessoria do Encontro de Casais com Cristo (ECC) já era conduzida pelo padre Marcos Roberto da Silva desde a saída de cena repentina do padre Silvio Quaio de Bastos (SP) – hoje de volta à ativa, em Junqueirópolis (SP).
Situação semelhante à do padre Edson Luís Barbosa da Silva, que ocupara a assessoria da Pastoral Juvenil até pedir seu afastamento. Ele já foi substituído pelo padre Francisco dos Anjos Andrade, administrador paroquial em Rinópolis (SP).
Falecido em novembro de 2022, o padre Cecílio Davi era assessor da Legião de Maria. Assumiu o padre João Roberto Bonato, da Matriz de Santo Antonio, de Marília. O Conselho Diocesano de Leigos (CDL) e a Pastoral do Dízimo seguem “em reestruturação”
SOB NOVA ORDEM
Entre as congregações religiosas citadas no Guia Diocesano 2023, a novidade é a inclusão da Congregação da Pequena Obra da Divina Providência “São Luís Orione”, cujos membros são chamados Filhos da Divina Providência (FDP).
Os orionitas, como também são conhecidos, assumiram a administração da Pousada Bom Samaritano, uma comunidade terapêutica que atende dependentes químicos em sede localizada na zona rural de Dracena (SP).
Fundada em 1995 pela iniciativa do frei Moacir Chinelatto (1933-2004), sob a inspiração da Campanha da Fraternidade (CF) daquele ano - “A Fraternidade e os Excluídos” – a entidade foi conduzida por leigos até julho de 2022.
No entanto, ainda em 2021, os orionitas foram procurados pelo reitor do Santuário Nossa Senhora de Fátima de Dracena (SP), Rui Rodrigues da Silva, para que pudessem assumir a direção e a administração da pousada.
Com experiência em outras obras sociais espalhadas pelo país – inclusive uma outra comunidade terapêutica mantida em Morada Nova (MG) – os orionistas aceitaram ampliar a ação missionária na Diocese de Marília.
A formalização da transição de gestão ocorreu em julho em comum acordo com a diretoria que terminava seu mandato e os sócios beneméritos. Os orionitas assumiriam oficialmente a Pousada Bom Samaritano em outubro.
Mantida por convênios com o Governo Federal e da Prefeitura de Dracena (SP), a entidade ainda depende de doações voluntárias e da realização de eventos para manter 10 funcionários e oferecer atendimento semestral gratuito aos acolhidos.
“Quando assumimos, eram 20. Aumentamos para 27, mas três vagas são para extrema necessidade ou urgência”, informou ao blog o diretor financeiro, padre Osvaldir Ribeiro Mendes. O novo presidente é o padre Gilmar Joaquim Hermes.
Procurado, o padre Rui recomendou que se procurasse os colegas oronitas. Último presidente leigo da Pousada, o diácono Nivaldo Aparecido Mota apenas visualizou a mensagem do blog em um aplicativo de mensagens e não respondeu.
Em julho de 2022, ao final de seu mandato, a Prefeitura Municipal de Dracena (SP) acolheu um plano de trabalho assinado por ele e incluso no Projeto de Lei 45/2022, do Executivo, de autorização de repasse de subvenção à pousada.
No documento, Mota informou que os recursos financeiros “tornaram-se insuficientes para implementar algumas necessidades referentes a pagamentos de funcionários e demais custos em geral”. O projeto foi aprovado por unanimidade na Câmara Municipal.
CASO DENIS
Afastado de suas funções sacerdotais desde julho de 2019 após ser preso em flagrante em uma operação de combate à pedofilia, e ser liberado no mesmo dia após pagamento de fiança, o padre Denismar Rodrigo André deve retornar ao tribunal.
A Justiça agendou para o próximo dia 24 de março uma nova audiência para ouvi-lo como réu da ação penal que responde por crimes previstos no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), e também a uma testemunha.
Padre Dênis, como ainda é conhecido, foi preso na casa de sua família, em Tupã (SP). Na ocasião, ele confessou à polícia ter baixado imagens pornográficas com menores de idade, mas negou compartilhá-las.
O blog não conseguiu contato com a defesa do padre. O espaço segue aberto para manifestações. Caso sejam feitas, este post será atualizado. Não há previsão para despacho e publicação da sentença pelo juízo paulista.
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